sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Ele, o silêncio, permite-nos escutar a PALAVRA Criadora e Vital, a Palavra de Deus. Ouvir leva ao diálogo.

Para a civilização do barulho não há diálogo; surge a agressão, a violência, o combate, a traição.

Sem o silêncio não há oração e sem a oração o homem não vive do respiro que independe dele. Orar não é bater boca, mas é rezar (do latim RES = coisa, objeto e do sânscrito ZAR = luz, brilho) isto é, colocar o objeto, o fato, a pessoa na luz.

Portanto, para ver a luz, para ser iluminado, é necessário, também, o silêncio. Hoje tudo se julga, julga-se a qualquer preço, como se “a nossa palavra” fosse a verdade. A Palavra em si, o objeto em si, a pessoa em si necessitam da luz para ser, para se comunicar, para dialogar.

Silêncio, oração e arte caminham juntos. Calar passou a ser apenas um ato feio (de consentimento) quando, na realidade, o silêncio nos permite escutar primeiro para ver e entender o fato, de fato e como é em si. Hoje, refletimos cada vez menos e agimos, conseqüentemente, ao léu. Nossas ações são irrefletidas, pois primeiro não são contempladas.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O SILÊNCIO - Pr Ricardo Gondim (AD Betesda)

O Eclesiastes afirma que “há tempo de calar e tempo de falar”. Estranho como gostamos de barulhos. Como tagarelamos! Sentimos necessidade de conversar. O impulso de botar para fora o que internalizamos é quase irresistível. Falta-nos, porém, a sensibilidade de cultivar o momento sóbrio, quando as palavras se calam. Não temos disciplina para praticar a absoluta serenidade, e não dizer nada.

Na quietude, nos tornamos criativos. No hiato dos movimentos, no vazio das iniciativas, intuímos sobre a vastidão cósmica. Mergulhamos também no universo quântico, no grande nada pontilhado de partículas, na vastidão onde existem meros respingos subatômicos; o vácuo que não conhece fronteiras, onde tudo é parte de tudo. Só quando nos dispomos a fluir nesse oceano oco, nos aquietamos. Tranqüilos, criamos a matéria prima para preencher essas lacunas universais.

Na quietude, entramos em contato com a nossa interioridade. Semelhantes a Jacó, nos despedimos de tudo e de todos para reconhecer as sombras e luzes do nosso eu. Nossos solilóquios também são preces – somos santuários do Divino. Quando encaramos a melancolia, perguntamos como Davi: “Por que você está assim tão triste, ó minha alma?”. Nas conversas introspectivas, damos ordens ao coração para que não seja ingrato: “Bendiga o Senhor a minha alma! Bendiga o Senhor todo o meu ser! Não esqueça nenhuma de suas bênçãos!”.

Na quietude, ouvimos a voz de Deus. Ele fala no absoluto silêncio. Os conselhos mal dados pelos amigos de Jó podem confundir. O tumulto das águas turbulentas pode impedir o sussurro do Espírito. O medo do futuro pode assustar e não respondemos ao mandamento: “Aquietem-se e saibam que eu sou Deus”. O mistério do Absoluto habita no quarto trancado, no crepúsculo silente, nas madrugadas solitárias.

Na quietude, somos livres. Não há reputação a defender quando se caminha pelo deserto. Despidos de máscaras, o cicio nos beija a face. Na tranqüilidade da solitude, percebemos o sutil toque do grande Outro. Sem precisar proteger as costas, caminhamos em direção aos nossos sonhos. No sossego, absorvemos os acolhimentos sem cobrar explicações.

Na quietude, descansamos. Quando as agendas são deixadas de lado e as demandas por desempenho esquecidas, suspiramos aliviados. Os tempos sem agitação permitem mergulhar e meditar no que flutua abaixo da superfície ruidosa, onde a vida é em câmara lenta. Os dias sabáticos são sagrados porque são vagarosos; e lembram que não somos máquinas azeitadas para desempenhar bem. O Criador nos fez para celebrar encontros, encantar-nos com o belo e eternizar os instantes.

Na quietude, descobrimos o valor do próximo. O sossego ressuscita a saudade. Sós, despertamos. Não conseguiríamos viver isolados por muito tempo. Necessitamos de pareceiros que nos ajudem a levantar quando tropeçamos. Sem companhia, o frio é sempre severo. No ermo, nos lembramos que um cordão de três dobras não se rompe facilmente.

Na quietude, reconhecemos a nossa impotência. Imaginamos que o nosso valor reside na eficiência. Acreditamos que as conquistas, o nome e a reputação abrirão portas e facilitarão a nossa jornada. O deserto, porém, não permite soberba. Na reclusão, os limites da arrogância ficam nítidos; restanos viver um dia de cada vez.

Na quietude, reconhecemos a nossa efemeridade. O ativismo oculta a verdade contundente da mortalidade. Agitados, fugimos de encarar de encarar que somos pó. Fugimos, mas não evitamos a crueldade de saber que em breve passaremos. Quando paramos, percebemos que a vida é curta. Devemos guardar o coração para não sermos estupidos de querer conquistar o mundo e perder a alma.
Deus habita nas calmarias. Sua voz, inaudível aos ouvidos físicos, ressoa nos silêncios. Por isso, “diz o Soberano, o Senhor, o Santo de Israel: No arrependimento e no descanso está a salvação de vocês, na quietude e na confiança está o seu vigor, mas vocês não quiseram” - Isaías 30.15.

Soli Deo Gloria.