segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A ironia do Homem de Ferro

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De uma maneira geral, filmes sobre super-heróis constituem estimulante alimento para a mente e a alma, começando por suas premissas básicas e pela filosofia por trás do próprio gênero cinematográfico. Some-se a isto, a realidade de que, mais recentemente, um número crescente de filmes sobre super-heróis tem focalizado tanto o ser humano atrás da máscara - e nos eventos críticos que o moldaram e têm guiado - quanto nos efeitos especiais e nas cenas de lutas. E neste caso em particular, Tony Stark, o homem sob a armadura do Homem de ferro, é um dos personagens mais interessantes da história das revistas em quadrinhos.

Superpoderosos na fragilidade

Filmes recentes baseados em personagens de revistas em quadrinhos têm nos mostrado que super-heróis podem vir de praticamente qualquer lugar, e que limitações físicas ou circunstanciais não necessariamente impedem o surgimento dos mesmos. De fato, algumas vezes eles podem provar exatamente o contrário. Com freqüência, em suas origens, os super-heróis são fracos fisicamente. A fim de combaterem o mal, eles precisam superar as limitações que os colocam em desvantagem perante os inimigos e têm que se tornar fortes, justamente onde são mais frágeis - o que nas revistas em quadrinhos, é sempre mais dramático, pois eles se tornam não apenas fortes, mas superpoderosos. Matt Murdock, o advogado cego, se torna o Demolidor, cujo radar superpoderoso - uma espécie de sexto sentido - ultrapassa em muito a visão de uma pessoa normal. E como vemos em Homem de ferro, o industrial Tony Stark - com um coração despedaçado e à beira da morte - se torna um indestrutível vingador. A idéia de que ninguém está destinado ao fracasso, de que é possível erguer-se acima das circunstâncias e fazer a diferença, é uma parte importante de nossa herança cultural - e algo que necessita ser reafirmado. No entanto, isto é apenas parte da verdade. E é bem aqui que as filosofias por trás das revistas em quadrinhos - e histórias de aventura em geral - tantas vezes falham em nos oferecer a verdade inteira.Isaías 55.8 nos recorda que os caminhos de Deus não são os nossos caminhos, e seus pensamentos não são os nossos pensamentos. A observação de Paulo sobre ser forte na fraqueza (2 Coríntios 12.10) refere-se não a uma habilidade física para erguer-se acima de nossas limitações, impondo portanto, nossa vontade. Ao invés disso, refere-se ao alegre reconhecimento de que nossa fraqueza em si é uma coisa boa. Pois nossas limitações impedem a tendência de dependermos exclusivamente de nossa própria força - um caminho que fatalmente nos conduz ao fracasso ou a perigosa vitória que vem acompanhada da ilusão do orgulho. Deus apenas é capaz de ver o fim de todos os caminhos e sem Ele nós não podemos alcançar nada que seja duradouro - mas com Ele, tudo é possível.

Defensor da Liberdade

O Homem de ferro foi criado originalmente no início dos anos 1960, em meio ao dinâmico idealismo de John F. Kennedy. Este foi um tempo em que os Estados Unidos haviam decidido defender não apenas sua própria liberdade, mas a liberdade em nível mundial, e a Doutrina Truman, que tinha como objetivo conter o avanço do comunismo, que operava a todo vapor. Na condição de único super-herói abertamente político - sua primeira armadura foi criada para libertá-lo de uma prisão no Vietnã - o Homem de ferro lutou ao redor do globo em prol do ideal americano. Para o novo filme, a Marvel atualizou um pouco o personagem e a história de sua origem, substituindo os soldados do Vietnã do Norte por terroristas do Oriente Médio. Mas a história básica continua a mesma, e Tony Stark continua sendo um industrial e fornecedor de suplementos militares para o exército americano. Ao lado da mentalidade política do “nós temos a força e o poder para libertar o mundo” - a qual com freqüência é foco de intenso debate político - e, sobretudo, em ano de eleição, quando o país encontra-se às voltas com um impopular conflito no Iraque - a temática de o Homem de Ferro tem potencial para provocar algumas conversas interessantes.

Irônica simetria

Para mim, no entanto, o mais interessante aspecto da história é o próprio personagem Tony Stark - o homem por trás da máscara de ferro. No início dos anos de 1980, os fãs do Homem de ferro tomaram conhecimento de que Tony Stark havia crescido emocionalmente distante de seus pais abastados e que o começo de sua vida adulta fora uma contínua tentativa de impressioná-los, de solicitar algum tipo de aprovação paterna de um homem frio e fechado. Tendo fracassado em seu esforço, Tony Stark decide - anos antes de sua decisiva experiência na prisão vietcongue - viver como o jovem rico e imaturo que era, construindo muros que o separavam das pessoas e enclausurando-se numa armadura emocional criada por ele mesmo. Contudo, mais tarde, à medida em que arrisca sua vida enfrentando vilões de proporções apocalípticas, uma terrível ansiedade passa a dominá-lo. E logo ele descobre que a ostra emocional que deveria protegê-lo, na realidade, o isolava; ao invés de manter a dor do lado de fora, ela mantinha a dor confinada do lado dentro. O Homem de ferro encontra-se assim preso em uma armadura que ele não poderia vestir e despir conforme desejasse ou fosse necessário, e desse modo ele começa, gradual e inevitavelmente, a desmoronar. Tony Stark se torna então um alcoólatra antes de finalmente atingir o fundo do poço. A irônica simetria do homem na armadura capaz de proteger os outros, mas incapaz de salvar-se a si mesmo, é central para o personagem. Ela demonstra como o superar de nossos limites, com base exclusivamente em nossas próprias forças, pode algumas vezes resultar em uma limitação ainda maior e mais nociva. E também fala com força sobre como o modo como nós seres humanos fomos desenhados para funcionar: em estreito contato com Deus e uns com os outros.

A arte imitando a vida

Há mais ironia aqui: Robert Downey Jr., o ator que vive o personagem que dá nome ao filme, teve já sua própria jornada à maneira Tony Stark, lutando contra seus demônios internos. À semelhança do homem atrás da máscara de ferro, o ator que o vive nas telas do cinema também já esteve na prisão cumprindo várias sentenças por diferentes acusações relacionadas ao consumo de drogas. Como o personagem que encarna no filme, Robert Downey Jr também construiu para si uma armadura emocional, mas à base de substâncias entorpecentes. Aos seis anos de idade, foi iniciado no uso da maconha por seu pai. Aos treze, testemunhou a desagregação de sua família no divórcio seus pais. Novamente à semelhança de Tony Stark, o ator também viveu como um jovem insensato.Talvez todas estas coisas sejam as razões pelas quais Robert Downey Jr., queria este papel mais do que qualquer outro em sua carreira: “você pode pegar um milhão de mitos de Joseph Campbell e procurar” ele contou a revista Esquire, “nenhum deles se aplicar melhor a mim (do que Homem de ferro/Tony Stark)”. A arte imitando a vida? Ou vice-versa? De um modo ou de outro, quando assistimos a história deste personagem se desenrolar diante de nós na tela do cinema, somos levados a perguntar como nossas próprias vidas e escolhas refletem as dele. Até que ponto confiamos em nossa própria força e sabedoria e não na força e sabedoria de Deus? Que “armaduras” e “máscaras” emocionais usamos? Onde e quando discernimos entre proteger nossa privacidade e sermos vulneráveis, especialmente diante de pessoas a quem Deus pode usar para trazer uma palavra importante para nossas vidas? Quais são as drogas - literais e metafóricas - que utilizamos para entorpecer a dor da vida? E como Deus pode nos ajudar com tudo isto?Quer gostemos do filme ou não, estas são perguntas que todos deveríamos estar fazendo, individual e mutuamente.

Frank Smith é escritor e vive com sua esposa e dois filhos em Charlottesville, na Virginia.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O NOVO PARADIGMA DA MISSÃO

Sempre desconfiei do senso comum. Considero necessária e até mesmo imprescindível a coragem de questionar tudo, inclusive os alicerces da alma e da existência humanas. Para quem porventura se preocupa comigo, advirto estar em boa companhia – também estou alinhado com o apóstolo Paulo, que disse que “contra a verdade nada pode, senão a verdade”.Até o conceito de missão da Igreja associado à grande comissão pode ser questionado. Discordo dos que afirmam que essa missão é de fazer discípulos. Primeiro, porque a declaração de Jesus registrada em Mateus 28.18-20 nos permite apenas deduzir a missão da Igreja, e segundo, por considerar reducionista a equivalência da tarefa de fazer discípulos com a missão da Igreja.As referências bíblicas utilizadas para deduzir a missão da Igreja são diversas, sendo as mais utilizadas as dos evangelistas. É fácil perceber que cada um de seus textos possibilita um resultado diferente para o enunciado definidor do que seria aquela missão. O registro de Mateus 28.18-20 possibilita a fórmula “fazer discípulos”, implicando necessariamente o ensino detalhado de todas as ordens de Jesus. Marcos indica a proclamação do Evangelho como tarefa essencial, assim como Lucas (24.46-48), que também sublinha a proclamação, mas com conteúdo menos abrangente, restrito à convocação ao arrependimento para perdão dos pecados. Já o evangelho de João abre um leque extraordinário quando afirma que a missão da Igreja deve ser derivada da missão de Jesus – “assim como”, o que remete a declarações do tipo: “Porque o Filho do homem veio para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Marcos 10.45); ou ainda: “Veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lucas 19.10), de onde poderíamos deduzir que a missão da Igreja se sustentaria em três ações concomitantes: buscar, servir e salvar. Por fim, em Atos 1.8, o evangelista Lucas aponta na direção do testemunho a respeito da pessoa e obra de Jesus como aspecto essencial da missão.Uma leitura mais ampla da Bíblia Sagrada, disposta inclusive a buscar as referências do Antigo Testamento como elementos constitutivos da missão do Messias transferida para sua Igreja, nos levaria necessariamente a concluir duas coisas: a primeira é que existem outras tantas narrativas negligenciadas pelo senso comum dos que querem definir a missão; e a segunda é que, incluídas e consideradas estas outras peças do quebra-cabeças, o resultado final será não apenas diferente, como também – e principalmente – muito mais abrangente do que a mera declaração “fazer discípulos”.Na narrativa de Mateus sobre o Sermão do Monte, Jesus identifica seus discípulos como sal da terra e luz do mundo. Ali, o Senhor amplia o horizonte de compreensão da missão, incluindo a necessária transformação – ou, no mínimo, uma afetação da realidade conjuntural – da terra e do mundo, mediante a presença de seus discípulos. Já Lucas 4.17-21 identifica na ação e presença messiânicas a liberdade dos cativos e oprimidos, conforme Isaías profetizou –.o que inclui, para muitos, as dimensões sociais, econômicas e políticasAinda que exista certa divergência nos limites implicados, está claro que a presença e atuação de Jesus e de sua Igreja no mundo extrapolam a relação pessoal do indivíduo com Deus. É reducionista a definição da missão da Igreja que se esgota no esforço de chamar pessoas ao arrependimento para remissão dos pecados. Nesta interpretação, “fazer discípulos” seria apenas ensinar aos que crerem todas as coisas que Jesus mandou. Da mesma forma, parece equivocado dissociar a missão da Igreja da atuação dos cristãos na sociedade. Tal raciocínio mantém a dicotomia entre evangelização e responsabilidade social, dando primazia ao testemunho verbal do conteúdo do kerigma sobre os atos de justiça. Nessa perspectiva, a Igreja é vista como uma comunidade diaconal, mas o serviço cristão se presta a autenticar a pregação do Evangelho.As expressões “fazer discípulos” e “missão da Igreja” apontam realidades distintas e não podem ser consideradas sinônimas. Estamos, portanto, diante de pelo menos dois paradigmas; um que resume a missão da Igreja na conquista de novos seguidores de Cristo, e outro que a considera em termos mais abrangentes. No primeiro – o da grande comissão – a salvação se resume à conversão pessoal e individual. Salvo é todo aquele que crê na mensagem do Evangelho, se arrepende para a remissão de seus pecados e passa a viver integrado na comunidade cristã, sob os imperativos éticos da Palavra de Deus e o compromisso de propagar e difundir a mensagem de salvação. Já o outro paradigma, o da missio Dei, descarta a idéia de missão restrita ao discipulado individual e supera o reducionismo da salvação como livramento dos indivíduos das penas eternas. A Igreja não é para o mundo, nem mesmo espaço de fuga do mundo, mas o próprio movimento de Deus para dentro dele, e nesse sentido, da Igreja com o mundo. A missio Dei se relaciona com a missão da Igreja fazendo desta última a comunidade solidária com o Cristo encarnado e crucificado, bem como ressurreto e exaltado. Em Missão transformadora (Editora Sinodal), David Bosch conclui que o propósito da missão da Igreja não pode ser simplesmente a implantação de igrejas e a salvação de almas. “Pelo contrario, deverá ser representar a Deus diante do mundo (...) Em sua missão, a Igreja é testemunha da plenitude da promessa do Reino de Deus e é partícipe da batalha contínua entre esse reinado e os poderes das trevas e do mal”.

Pr. Ed René Kivitz - IB Água Branca

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

DEUS CONOSCO

O Salmo 23 é o testemunho de Davi a respeito de seu relacionamento com Deus. Revela a maneira como Davi percebia e experimentava Deus. Caso alguém pedisse a Davi que descrevesse o seu Deus, ele diria Deus é o meu Senhor/Pastor, é Aquele que me supre, guia, restaura, acompanha na adversidade, protege dos inimigos e me cobre de misericórdia e bondade. Uma leitura teológico-sistemática diria que Deus pode ser chamado de Provedor (águas tranquilas, pastos verdes, e refrigério para a alma), Condutor (guia pelas veredas da justiça) e Protetor (vara e cajado no vale da sombra da morte, mesa farta na presença dos inimigos, bondade e misericórdia todos os dias) dos seus filhos.

Mas devo confessar minhas incredulidades. Caso você me pergunte se creio em Deus como meu Provedor, a resposta é um peremptório SIM. Mas se perguntar se isso significa que creio que jamais passarei por privações financeiras, jamais ficarei desempregado, jamais endividado, jamais irei mal nos negócios, jamais ficarei mais pobre do que sou hoje, jamais precisarei da ajuda de terceiros, a resposta desta vez é um peremptório NÃO.

Caso você me pergunte se creio em Deus como meu Condutor, a resposta é um peremptório SIM. Mas se perguntar se isso significa que creio que jamais tomarei decisões erradas, jamais escolherei o caminho da injustiça, jamais terei meus planos frustrados e castelos desmoronados, jamais ficarei indeciso e sem saber para onde ir, desta vez a resposta é igualmente um peremptório NÃO.

Igualmente, caso você me pergunte se creio em Deus como meu Protetor, a resposta é um peremptório SIM. Mas se perguntar se isso significa que creio que jamais serei tocado pelas fatalidades, jamais serei alcançado pela tragédia, jamais serei ferido pela maldade, jamais serei injustiçado, jamais sofrerei perdas ou danos, mais uma vez a resposta é um definitivo NÃO.

A convicção quanto à provisão, orientação e proteção de Deus não nos isenta das possibilidades de fracassos, fatalidades, privações e ferimentos, tudo isso, ônus do direito de viver. A própria biografia de Davi me autoriza a tal afirmação. O início de sua trajetória rumo ao trono foi marcado por perseguição e ódio. Seu primeiro exército foi composto da escória da sociedade: endividados, angustiados e pessoas descartadas pela sociedade de então. Davi teve um filho que estuprou uma filha e depois foi assassinado pelo irmão. Depois disso, Davi usurpou seu poder de Rei e tomou para si a mulher de um de seus comandantes militares, que mandou matar: adultério e assassinato. O filho de seu adultério foi morto por ato disciplinar de Deus. O filho fratricida se revoltou contra sua autoridade e liderou uma rebelião no reino de Israel. Este filho rebelde foi morto pelo exército real e depois Davi teve que comparecer diante do povo para agradecer e honrar os assassinos do seu próprio filho, por quem chorou, desejando ter morrido em seu lugar. Qualquer pessoa poderia questionar que tipo de Provedor, Condutor e Protetor é esse que permite uma biografia marcada por tragédias, crimes, ódios, e pecados suficientes para determinar a infelicidade crônica de qualquer mortal.

Isso me leva a crer que as afirmações de Davi no Salmo 23 devem ser interpretadas de outra maneira, distinta daquela que nos leva a crer que Deus nos coloca dentro de uma bolha de bem-estar, conforto, e prosperidade inabaláveis. Por esta razão, creio que a expressão que sustenta o relacionamento entre Davi e Deus não apresenta Deus como Provedor, Condutor ou Protetor. Estas dimensões do relacionamento pertencem a Deus, e nas mãos de Deus está a prerrogativa de como prover, conduzir e proteger os seus. A expressão que determina a qualidade do relacionamento entre Davi e Deus é “tu estás comigo”. Caso você pedisse a Davi que descrevesse o seu Deus, ele deixaria de lado a teologia sistemática e falaria com o coração: Deus é meu grande companheiro. Ele está sempre comigo. Esteve comigo na caverna de Adulão. Esteve comigo quando Saul corria atrás de mim para me matar. Esteve comigo quando meus filhos se matavam e se odiavam. Esteve comigo quando eu não soube o que fazer para estancar o ódio dentro da minha casa. Esteve comigo quando eu andava pela escuridão usurpando, matando, mentindo. Esteve comigo quando meu filho conspirava contra mim. Esteve comigo quando eu precisei superar a minha dor para resguardar a autoridade do meu exército e preservar a unidade do exército e do povo. Deus é meu grande companheiro.

Minha leitura deste Salmo 23 me ensinou duas coisas essenciais. Primeiro, me ensinou que não devo basear meu relacionamento com Deus naquilo que Deus pode fazer por mim, mas sim naquilo que Deus pode fazer em mim. As expectativas que tenho a respeito de Deus não estão relacionadas ao que Ele pode fazer em minhas circunstâncias, mas sim ao que Ele pode fazer em meu coração.

Afirmar “o Senhor é meu Pastor e nada me faltará” implica um caminho livre de ansiedade e repleto de satisfação. Espero que o dia da escassez nunca bata à minha porta, mas se chegar, o que mais espero é poder dizer que “aprendi a estar contente em qualquer situação, porque Deus está comigo, e posso superar qualquer circunstância ruim naquele que me fortalece”.Afirmar que “ele me conduz às águas tranqüilas, aos pastos verdejantes e restaura a minha alma”, implica um caminho de serenidade e saúde emocional. Tenho certeza que Deus tem o seu caminho no meio da tormenta, e mesmo no deserto, me levará aos mananciais onde poderei ser restaurado no corpo e na alma. Espero jamais passar pelo que Paulo apóstolo passou, mas caso necessário, o que mais espero é também poder dizer que “combati o bom combate, terminei a carreira e guardei a fé: estou inteiro e passaria por tudo novamente”.

Afirmar que Deus prepara uma mesa na presença dos meus inimigos e unge a minha cabeça com óleo, implica um caminho onde a alegria é possível mesmo quando o que é mal está diante dos nossos olhos. Espero que o ódio do mundo e do mal não se materializem contra mim de forma tão visível e explícita, mas caso aconteça, espero muito mais ter a coragem de continuar em frente, com os olhos fitos na mesa posta pelo Bom Pastor que me prometeu vida abundante no meio dos lobos.

A segunda coisa que aprendi lendo o Salmo 23 é que não devo basear meu relacionamento com Deus naquilo que Deus pode fazer por mim, mas no que eu posso fazer tendo um Deus como Ele. Diante dos vales de sombra da morte, não devo ficar esperando que Deus me leve para longe do vale, ou que Deus afaste do vale a sombra da morte. No dia em que tudo ficar escuro, espero me não me deixar tomar por um espírito de covardia, mas me levantar movido pelo espírito de amor, moderação, e poder, para atravessar o vale com a dignidade que somente os que afirmam “Deus está comigo” podem ter.

Que venha o futuro – ou melhor, eu vou ao futuro sentado na confortável poltrona 23.

Pr Ed René Kivitz - http://www.galilea.com.br/

Metanoia

O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho.[Marcos 1.15]

Jesus inaugurou um novo tempo, o tempo de Deus, chamado período do reinado de Deus. Isso não significa que Deus estava distante e omisso em relação à história e às necessidades e angústias humanas. Significa, sim, que a maneira como Deus passa a agir e interferir na história e entre os homens se torna absolutamente distinta: agora Deus está entre nós. Jesus é Emanuel: Deus conosco.

A chegada do reinado de Deus exige arrependimento e fé. A palavra grega traduzida por “arrependimento” é “metanóia”, de “meta” = além, que transcende, e “nous” = mente, modo de pensar. Arrependimento é “expansão de consciência”: uma iluminação interior que acarreta tamanha transformação que se diz que o arrependido “nasceu de novo”. Ninguém consegue andar com Jesus sem crer na realidade do reina do de Deus, e qualquer que se submeta ao reinado de Deus permanece a mesma pessoa.

Pr Ed René Kivitz - http://www.galilea.com.br/

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A Espiritualidade do Seguimento

No princípio, era o seguidor! Jesus irrompia inesperadamente e dizia: "Segue-me, venha após a mim". A resposta positiva exigia uma ruptura com a maneira de viver até aquele momento do que aceitava o convite. A vida deveria ser reorganizada. O centro era o mestre e o caminho apontado por ele. Quem aceitava tal convite nos seus termos tornava-se um discípulo. Também, no princípio, existia o simpatizante: aquele que se emocionava com as palavras do Cristo, achava fantásticos os seus milagres, impressionava-se com a originalidade de suas atitudes, nutria enorme curiosidade por encontrá-lo - mas não colocava o pé no caminho. Simpatizava até o ponto de não precisar mudar seu estilo de vida. Tinha admiração, mas não estava interessado na transformação resultante da formação espiritual à qual todos os discípulos viveriam quando resolvessem caminhar o caminho proposto pelo Filho de Deus.

Ainda no princípio, havia o consumidor. Este sequer tinha tempo de ouvir o Senhor; desejava, isso sim, comer o pão e o peixe multiplicados, ansiava pela cura da perna atrofiada, somente tinha interesse em ser restaurado da lepra... Uma vez alcançada a graça, nem sequer lembrava de retornar para agradecer. O discípulo seguia Jesus porque o admirava; o simpatizante admirava sem o seguir, e o consumidor nem seguia e nem admirava, posto que Jesus era apenas um provedor de suas necessidades, e não alguém a apontar-lhe um caminho transformador.

Jesus conviveu indistinta e graciosamente com estes três grupos dentro da multidão que gravitava ao seu redor. Nunca se negou a oferecer caminho aos seguidores, admiração aos simpatizantes e provisão aos consumidores. Todavia, o rabi sabia que os discípulos eram os protagonistas para cumprir sua missão no mundo. Certamente, ele não contava com simpatizantes e consumidores para o estabelecimento do Reino de Deus. Estava certo, como sempre! Nos duzentos anos que se seguiram à sua morte, o pequeno e frágil grupo inicial de discípulos, apaixonado por sua missão, se espalhou por todo Império Romano. Eles haviam sido convocados pessoalmente para seguir um caminho; colocaram o pé na estrada e saíram pelas vilas e cidades com a mesma convocação com que foram convocados: sigamos o seu caminho. Quanto aos simpatizantes e consumidores, não se sabe o que aconteceu com eles. Afinal, quem fez a história foram os discípulos.

Não resta dúvida: o cerne da espiritualidade cristã está em seguir a Jesus. Quando decidimos conscientemente seguir o seu caminho, então a espiritualidade cristã começa a fluir em nós. O Pai, pelo seu Espírito, vai nos transformando na imagem de seu Filho à medida que damos os passos no caminho. Fora do seguimento, não há espiritualidade. Todos nós estamos necessitados de retornar à experiência original dos primeiros discípulos. Sim, nossa carência essencial está em "ver" Jesus de novo surgir em meio à nossa complexa e agitada vida, cheia de cansaço e dores, e sussurrar com ternura e vigor ao nosso coração: "Vem e segue-me!" Quando ele irromper no nosso cotidiano, como aconteceu com os pescadores da Galiléia ou com o coletor de impostos da Judéia, com aquele sedutor olhar a nos convidar a seguir o seu caminho, e largarmos as redes ou a segurança da coletoria, aceitando seu convite, então, experimentaremos real comunhão com o Deus trinitário. Longe do caminho do Filho, não seremos capazes de enxergar a face do Pai e tampouco vivenciar a presença do Espírito. De fato, no cristianismo bíblico, espiritualidade é um mero sinônimo de seguimento.

Se as nossas orações, liturgias, louvores, corais, células, congressos e mensagens não apontam o caminho do Senhor e não convocam o mundo para segui-lo, então, tudo isso pode até ser espiritualidade, mas não é cristã. Se nossas igrejas se tornam fontes de atração para consumidores e admiradores, ao invés de espaços comunitários formadores de discípulos, tenhamos consciência: todos devem ser tratados com graça e amor, como Jesus fez, mas só cumpriremos sua missão no mundo sendo e formando seguidores.

Não deveríamos, mas, infelizmente, estamos hoje diante de uma encruzilhada, que por natureza é o entroncamento de dois caminhos. Entrar por um é necessariamente excluir o outro. Ou escolhemos a espiritualidade do entretenimento, que produz simpatizantes e consumidores, ou optamos pela espiritualidade do seguimento, a que gera discípulos. Tenhamos, contudo, uma certeza - desde sempre, Jesus já fez a sua escolha. Basta, apenas, que o imitemos nela.

Por Eduardo Rosa PedreiraFonte: Renovare Brasil

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O MODELO PARA A IGREJA NO REINO

O Reino de Deus é dinâmico e atende as necessidades do homem para cada época em que se vive no decorrer da história. No Antigo Testamento Deus tratou de escrever os 10 Mandamentos como referencial a nação que estava se formando, já no Novo Testamento, Jesus resume os Mandamentos em apenas dois: amar a Deus e ao próximo. Sendo assim, é possível concluir que Deus se importa com o contexto cultural, histórico e social em que vive a humanidade. Não somos mais a mesma sociedade de trinta anos atrás, não atribuímos o mesmo senso de valor quanto à vestimenta, vocabulário, sonhos e tantas outras coisas.

A Igreja pós-Moderna não deve se contaminar com as práticas do mundo, mas também não pode se enclausurar em doutrinas tradicionalistas que afastam as pessoas. O apóstolo Paulo na carta aos Gálatas no cap. 11 vai nos dizer que não podemos nos submeter ao jugo de escravidão, segundo a lei, mas viver livres, servindo a Deus. Mesmo depois da virada do milênio continuamos muito influenciados pelo que os nossos pais e líderes nos deixaram como legado.

Acredito que muitas coisas que escrevo aqui devem causar certo mal estar em alguns líderes na igreja, só que o mundo hoje precisa de uma Igreja que seja mais humana, isto é, que se preocupe de fato com as feridas da alma, com a limitação da mente e que ofereça oportunidades que atendam a busca incessante do homem pelo sobrenatural, o místico. Infelizmente os mais carismáticos e os pentecostais assumiram uma posição de detentores do poder de Deus enquanto os mais tradicionais cuidam apenas das suas organizações, organogramas e intermináveis assembléias. Nada disso atrai o homem moderno, o evangelismo neste século precisa de crentes preocupados em alcançar o homem integralmente, uma visão holística é fundamental para alcançarmos não só a alma, mas ainda a mente, os sonhos e as necessidades do ser humano.

Chega de pensar apenas em “ganhar almas para Jesus”, temos que ir para ganhar homens, mulheres, jovens e crianças – gente de verdade – que vão encher nossas igrejas adorando a Deus em espírito e em verdade.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

PREPARADOS PARA DEUS

Amós 4.12 - "Portanto, assim te farei, ó Israel! E por que assim te farei, prepara-te ó Israel, para te encontrares com o teu Deus".

Este foi o texto a mim apresentado num fim de semana como parte do tema do Congresso de Juventude numa igreja em Vilar dos Teles-RJ. Apenas com um olhar panorâmico saltou-me aos olhos o que se passava na mente desses irmãos ao decidirem por tal assunto, inegavelmente pretendiam ouvir sobre a volta de Jesus e toda a bagagem escatológica que tal evento sugere. Cheguei em casa e passei a me aprofundar no desafio de Deus para o seu povo ISRAEL: prepara-te para encontrares com o teu Deus! Isso se torna muito interessante quando olhamos para a história desse povo separado para abençoar as nações, mas que deliberadamente passou a maior parte da sua história lutando contra essa vocação, tornando-se exclusivista e desobediente. Israel vive toda a trajetória do Antigo Testamento numa interminável "queda de braço" com Deus defendendo uma religião preconceituosa e adornando seus cultos com inúmeros cerimoniais e simbolismos. Pensando em tudo isso comecei a perceber que hoje, pelo menos me parece, passamos a fazer a mesma coisa. Recheamos nossos cultos, principalmente nosso tempo de louvor, com simbolismos e alegorias e padronizamos nossas pregações num discurso acalorado sobre as bênçãos que Deus está "obrigado" a nos dar não importando muito quanto do nosso tempo desprendemos para atender as necessidades dos que estão do nosso lado e precisam muito mais do que nós. Essa reflexão toda me fez arrepiar desde a espinha dorsal até os dedos dos pés! Estamos retrocedendo toda a nossa prática religiosa em atividades e costumes que em nada vão nos fazer melhores crentes porque isso tudo não motiva as pessoas a mudarem de vida, mas as ensina que tudo quanto pedirem (ou mandarem) a Deus já está consumado, desde que dois "decretem" aqui na terra. O texto de Amós no capítulo 4, só me faz querer encontrar qual caminho de obediência devo seguir e isso custe até quem sabe todos os meus bens. Não quero ganhar o mundo inteiro e perder a minha alma. Não quero andar com duas túnicas se meu irmão não tiver nenhuma, não quero fechar a janela do meu carro (novinho) e aproveitar o ar-condicionado se meu irmão estiver a pé pelo caminho. Como posso estar preparado para me encontrar com o meu Deus? Essa pergunta só pode ser respondida se atentarmos para onde estamos indo e o que estamos pregando. Não sei se estaremos preparados enquanto sustentarmos tais discursos triunfalistas ou mantivermos tais práticas de adoração profundamente espontânea, mas extremamente egoísta.

Que Deus nos abençoe e nos dê a Sua visão! (com toda a licença Pr Delcio...rsrs)

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O REINO DE DEUS E A IGREJA

Romanos 14.17

Nesta sociedade pós-moderna enfrentamos um sério problema em pensar no Reino de Deus. Tornamo-nos extremamente secularizados e assim a nossa lógica é quase sempre materialista, visando lucros e alcançando o sucesso. A teologia da prosperidade – ainda que os seus “bispos” insistam em dizer que ela não existe – já está estabelecida na Igreja Evangélica contemporânea. Toda a nossa liturgia segue esse padrão de vitórias e restituições, nossos cânticos exigem que os anjos tragam as bênçãos – custe o que custar. A nossa homilética tornou-se mitológica, alicerçada numa exegese recheada de símbolos. É muito comum hoje - até nas igrejas históricas – o pregador apresentar um discurso acalorado para falar de finanças, afirmando que a nossa oferta abrirá as portas do céu sobre a nossa cabeça. O nosso evangelismo promete uma vida comparada ao estilo MATRIX, onde o bem e o mal se enfrentam no mundo virtual, e que basta um telefonema e todo se resolve. O Reino de Deus apresentado na Bíblia é voltado para o serviço, a renúncia, sem promessas de conquistas pessoais ou qualquer “liquidação de bênçãos sem medida”. Jesus nos ensina que se o inimigo nos perseguir nós devemos amá-lo, se tivermos duas túnicas dividirmos uma delas com quem não tem nenhuma, que neste mundo teríamos aflições, mas cultivássemos o bom ânimo. Um reino que exalta muito mais o dar do que o receber. Exalta os humilhados, mas abate os exaltados. Abomina o pecado, mas ama incondicionalmente o pecador. Os ensinos sobre Reino de Deus também estão inseridos em todo o Novo Testamento, entretanto, existe uma explicação dada por Paulo que vai nos ajudar muito. Esta citação encontra-se em Romanos 14:17 que diz: “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo". Nós só poderemos promover o Reino de Deus quando promovermos a justiça, a paz e a alegria sobre a terra. Isso é Reino de Deus, o que ouvimos por aí hoje e dia não passa de retórica e técnica de marketing, para se alcançar cada vez mais adeptos. Peço que a misericórdia de Deus nos alcance antes que corramos a terra inteira atrás de prosélitos e os tornemos duas vezes filhos do inferno. (Mt 23.15)

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O REINO DE DEUS NOS EVANGELHOS

Habacuque 2.14

Temos confundido Reino de Deus com a nossa igreja; Reino de Deus está para além de nós mesmos. Quem somos nós para mediocrizarmos a visão de Reino de Deus, transformando-o em patrimônio da nossa religiosidade. Diante do Reino de Deus só há uma coisa a fazer: temer e tremer; curvar o joelho e dizer: ”Senhor, eu não vi nada do Teu Reino ainda. Está para além de mim, para além do que eu enxergo para além do que eu percebo”.

Seu Reino quer ser a totalidade da Sua presença e da sua vontade em todas as dimensões da vida e da criação. Nossa oração é que nós ganhemos o mínimo de lampejo do que seja o Reino de Deus, e acontecendo assim, tenhamos as nossas patologias teológicas e eclesiásticas curadas e nos curvemos humildes e humilhados diante de Deus, vendo-nos como servos inúteis. Para compreendermos o Reino de Deus hoje, temos que repensar sobre o conteúdo teológico do Reino. É preciso que se compreenda qual a perspectiva bíblica do Reino, para que se possa fundamentar essa perspectiva teológica. No entanto, para que nós dimesionemos as coisas e as compreendamos melhor, é mister pensar apenas na palavra “Reino” e nos atrelamentos com os contextos antecedentes e imediatos nos textos onde o termo aparece.

1 – O Reino como a semeadura da Palavra – Mt.13.1-23 nos oferece a dimensão existencial do reino deus. Trata-se da decisão do homem por Deus, rompendo suas próprias estruturas. A palavra cai no coração e o homem tem que decidir, tem que romper, tem que afirmar se quer ou não quer, e é justamente aí que aparece a resposta do homem à proposta de Deus, e o Reino pode se estabelecer no coração ou pode ser morto. É o que diz Jesus na parábola do semeador. O Reino pode ser sufocado pelo status, pode ser desenraizado da alma pela petrificação do coração, pode não encontrar penetração no âmago da vida.

2 – O Reino marcado pela ambigüidade – Mt.13.24-43 a parábola do joio e do trigo diz que o Reino hoje já é assim. O joio convive com o trigo, a maldade com a bondade, a justiça com a injustiça. É difícil avaliar na sua totalidade o que é justo e o que é injusto. Por isso, nesse momento do Reino existe essa condição de convívio com a ambigüidade, até que ele – o Reino – se totalize, quando Cristo vier e separar a luz da obscuridade, o claro do nebuloso, o que é do que parece ser. A Igreja fez muito mal aos seus seguidores ensinando um evngelho cheio de legalismos, padrões de conduta muito além da nossa humanidade. Já é tempo de reordenarmos os nossos conceitos de acordo com a ótica de Jesus que não julga sgundo a vista dos seus olhos e nem com o ouvir dos seus ouvidos, mas segundo a Sua infinita misericórdia e amor incondicional.

3 – O Reino como agente de penetração na totalidade do mundo – Lc.13.20,21 compara-se o Reino ao levedo; compara-se o Reino ao processo de fermentação que se espalha por toda a massa. O Reino é esse agente de penetração de todas as camadas do mundo real, e se ele ainda não penetrou todas as camadas da realidade. A teologia da pós-modernidade tem tentado dar uma conotação negativa à parábola do fermento na massa. O que se tem dito é que não é o reino que tem o poder virulento do fermento. Ao contrário, eles dizem que a Igreja é a massa e que o fermento é aquilo que é mal, penetrando a Igreja. Assim, coloca-se a Igreja na defensiva, como comunidade que para preservar-se tem que “fechar-se ao mundo”. Jesus, no entanto, deixa claro que “o Reino é semelhante ao fermento”, ou seja, o Reino tem esse poder de penetração contagiosa que o fermento possui.

4 – O Reino como refúgio e acolhimento – Mt.13.31,32 apresentam uma visão do Reino como a árvore, como lugar do acolhimento para esses que não tem onde pousar os pés, que não tem onde descansar, que não tem onde se aninhar.

5 – O Reino como revelação e achado do valor absoluto da vida – Mt.13.44.46 que encontra o valor dos valores relativiza os outros valores, consegue até vender o resto para viver a totalidade da alegria do achado na revelação que se nos apresentou em Cristo Jesus.

6 – O Reino como rede de vida – é esse lançar da rede ao mar, essa malha que traz maus e bons e que os faz viver juntos. Nessa ótica temos o outro lado da história do joio e do trigo. Ali é o maligno que semeia o joio no meio do trigo. Aqui é a própria ação evangelística que traz seres humanos de todo tipo para a convivência do Reino, nesse lugar que chamamos Igreja. O lado mau da condição humana não regenerada dos que vivem na Igreja nos assegura intermináveis situações problemáticas e até mesmo incuráveis. Mas o lado bom dos que foram regenerados na convivência da Igreja nos conduz à esperança.

7 – O Reino é a convocação para a ação útil da vida – Mt.20.1-16 nos apresenta a parábola dos desempregados. O sentido final do texto é dar utilidade ao inútil, é dar ocupação ao desocupado, é atribuir finalidade àquele que gastava sua existência no ócio. É acreditar que na história, segundo a visão do Reino, sempre é possível resgatar o tempo perdido, mesmo que seja ao pôr-do-sol, na última hora.

8 – O Reino como a festa para qual estão todos convidados – Mt.22.1.14 é a festa da vitória de deus na vida. É um convite para nos deixarmos pertencer a essa esperançosa perspectiva do casamento de Jesus com a humanidade redimida.

9 – O Reino como enfrentamento das forças de Satanás – Lc.11.20 diz que quando se expulsa demônios, é porque o Reino de Deus chegou. Só o Reino vence as forças do anti-Reino; e isso deve ensinar-nos que onde estiver as forças identificáveis com o diabo e com a morte, aí o Reino tem que estar e entrar para exorcizar essa força maligna. Parece que Jesus nos induz a ver não apenas possessões demoníacas individuais, mas também sociais. Há sociedades inteiras possuídas pelo mal, culturas que precisam ser totalmente regeneradas. As armas com as quais se expulsa essa possessão são as armas sociais do evangelho.

10 – O Reino como mensagem a ser pregada na história – Mt.24.14 não temos outra mensagem para pregar senão a mensagem do reino de Deus. Não há outro evangelho a ser pregado, pois, será pregado o evangelho do Reino a todas as nações e só depois virá o fim. Essa perspectiva evangelizadora do Reino que vai determinar a nossa percepção de que o tempo da volta de Jesus está próximo.

CONCLUSÃO

Se é assim, o que vamos fazer? A história está nas mãos de Jesus. Por isso saiamos e cumpramos a nossa missão. Ele disse: “Todo o poder me foi dado no céu e na terra”. Em outras palavras Jesus disse: “Por causa do meu poder não tenham medo de nada nem de ninguém. Vão por todo o mundo, preguem o evangelho a todas as nações, façam discípulos, batizem-nos, fundem igrejas e ensinem as pessoas a viver todo o projeto do Reino de Deus. E saibam: contem comigo, contem com a minha graça, contem com os meus milagres, os meus sinais, a força do meu Espírito, a minha alegria. Eu estou com vocês todos os dias, até a consumação dos séculos”.

Quero convidá-lo a responder de maneira profunda, coerente e irreversível a esta consciência de que a história está nas mãos de Jesus. Quero também fazer-lhes três convites. O primeiro deixar-se comprometer com o trabalho missionário, mesmo os que já estão com as cabeças brancas. Se você lidera algum ministério, exerce alguma posição de autoridade, faça o compromisso de ensinar em sua igreja a prioridade da evangelização e das missões. Tome a posição de não mais viver ensimesmado, olhando apenas para os seus próprios projetos eclesiásticos. Olhe para o mundo!

Mas se você é um empresário, comerciante, funcionário público, homem de negócios, faça este propósito: deixe de gastar no supérfluo. Invista seu dinheiro no sustento de missões e na promoção das causas integrais do Reino de Deus.Chega de ficar aplaudindo o Cordeiro. Ele não precisa de nosso aplauso. Ele quer é a nossa vida. Ele deseja que aplaudamos a Deus com a nossa vida. Dê a sua vida, dê seu dinheiro, dê seu suor, dê sua juventude, a sua velhice, a sua inteligência, a sua profissão, dê tudo a Ele. Aplauda-o com sua carne, seu sangue.

No amor do mestre.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

VIVENDO ALÉM DE MIM MESMO

1ª Co. 2.6-16

A vida cristã é cheia de contradições ou poderíamos afirmar que a vida cristã está envolta em um grande mistério. A vida espiritual é basicamente um mistério porque o nosso Deus também é um mistério. Seria, no mínimo, muito estranho ter um Deus que é um mistério e esperar que a vida fosse normal. Nós vivemos num outro limiar. Por isso, as contradições precisam ser vistas, analisadas e recebidas, não na mesma dimensão dos seres humanos “normais”.

Parece-me que, na visão do apóstolo Paulo existe duas dimensões de vida: carnal e espiritual (1ª Co 3.1). A dinâmica da dimensão carnal é um tanto quanto óbvia e dela não precisamos falar muito, afinal temos, nessa dimensão, a maior parte das nossas experiências. Ou seja, estamos por demais familiarizados com a carne e sua rigidez tirânicas. (1ª Jo 2.15-17) O desafio, portanto, é viver debaixo das observâncias de uma dimensão que extrapola a normalidade (carne). Essa dimensão não pode ser descrita com precisão, pois “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1ª Co 2.9).

É, todavia, na dimensão desse outro mundo que deveríamos analisar as circunstâncias, eventos e fatos que nos cercam e nos dizem algo sobre nossas vidas. Seria muito apropriada uma leitura de 1ª Coríntios 2.6-16. Nesse texto, Paulo está ensinando algo que nos libertaria por completo das influências trágicas de pensamentos detestáveis e pequenos. Somos completamente influenciáveis pelas idéias que fazemos dos fatos, porque não temos grandeza espiritual suficiente para compreender que nenhum fato tem o poder de modificar aquilo que jamais poderá ser modificado, isto é, a nossa posição diante de Deus.

Veja que, no texto mencionado acima, Paulo afirma que “nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus” (v. 12). Ora, se temos esse Espírito, então isso significa que as coisas desse mundo estão aquém daquela esfera espiritual que vivemos. Percebe-se, então, que as duas dimensões não se cruzam, pois são antagônicas.

A pessoa espiritual, conclui Paulo, não é afetada pelos eventos das coisas carnais, ou seja, desse mundo. Entretanto, essa não é a nossa realidade, dia após dia continuamos lutando contra os nossos desejos, brigando contra o pecado e sendo massacrados pela culpa. E é exatamente por isso que desejo compartilhar algumas verdades que o texto de Paulo vem nos ensinar acerca do nosso “modus operandis”.

1 – Somos responsáveis, individualmente, pela nossa maturidade cristã. O apóstolo Paulo, melhor do que qualquer outro pode falar sobre isso, se dermos uma olhada superficial que seja em Gálatas 1.11-24, veremos no seu testemunho o grau de responsabilidade que impôs a si mesmo para aprender do evangelho.

2 – Se não vivemos pelo Espírito nos tornamos inimigos de Deus. Veja que Paulo aqui está dizendo por que não entenderam acabaram matando a Jesus. Eu creio que fomos comprados para sermos servos de Jesus, e sendo assim, Ele nos mandou o Espírito Santo que seria o nosso guia até os confins da terra.

3 – Só Deus é capaz de discernir os desígnios do nosso coração. Enquanto estivermos brigando com nossas forças contra os nossos desejos e pecados, continuaremos vivendo vidas medíocres sem encontrar o nosso lugar no Reino e ainda corremos o risco de vivermos quase salvos, porém, totalmente perdidos.

4 – Se temos a mente de Cristo, estamos mortos, pois Ele é quem vai viver em nós. Quando eu e você entendermos essa verdade, podemos ter a mais absoluta certeza de que estamos no caminho para a maturidade cristã e mais próximos do caráter de Cristo em nós. Estaremos mais pertos do ideal paulino, de que morremos para o mundo e o mundo morreu para nós. Qual das duas dimensões controla a sua vida? Somos carnais ou espirituais? Quem determina o caminho que vamos seguir: as nossas vontades pessoais, o desejo pelo pecado ou a verdade da Bíblia e a direção dada pelo Espírito Santo?

Graça e paz ... no amor do mestre.

terça-feira, 15 de julho de 2008

A RELIGIÃO PÓS-MODERNA

Romanos 12.1 e 2

John Stott comenta sobre este texto: “Aqui o apóstolo Paulo pressupõe que os cristãos têm (ou pelo menos devem ter) uma mente renovada, como também que essa mente renovada produz um efeito radical na nossa vida, já que nos capacita a discernir e aprovar a vontade de Deus, transformando assim a nossa conduta. A seqüência é constrangedora. Se quisermos viver corretamente temos de pensar corretamente. Se quisermos pensar com integridade precisamos ter uma mente renovada, pois uma vez ela renovada, nossos interesses já não seguirão as propostas do mundo, mas a vontade de Deus, que nos transforma”. Saber articular uma apresentação do evangelho que seja ao mesmo tempo fiel as Escrituras e relevante no campo das idéias é uma questão crucial para o cristão contemporâneo – especialmente por conta do nosso contexto que oferece um “cardápio” de experiências religiosas tão variadas. Mas como anda a religiosidade nesse período da pós-modernidade? Acredito que o cristianismo desse século está “infectado” de algumas tendências que merecem a nossa atenção:

1 – A religião pós-moderna é subjetiva e indiferente a verdade bíblica. Os valores morais nos nossos dias estão muito relativos. A religião de hoje não é mais um conjunto de crenças sobre o que é e o que não é real, ao contrário, é vista como algo que tem a ver com preferências, com escolhas pessoais. Eu acredito naquilo que gosto e que me faz bem agora. Essa subjetividade torna a experiência do indivíduo o seu princípio de verdade.

2 – A religião pós-moderna é tribal. O grupo é quem decide o que é certo ou errado. A legitimação do grupo exerce uma força muito grande sobre o indivíduo. Somente aqueles que estão dentro da “tribo” têm o direito de comentar ou criticar esse conceito de verdade.

3 – A religião pós-moderna é emotiva. A característica básica da espiritualidade contemporânea são os fortes laços emocionais alimentados por um líder carismático. É comum neste ambiente ouvirmos frase do tipo: “Uma força sobrenatural, lá do meu interior, me atraiu para este grupo” ou “Deus me falou para sair ou ficar”.

COMO A IGREJA DEVE AGIR ANTE ESSE DESAFIO?

1 – Ser relevante antes de buscar reconhecimento. A Igreja tem que continuar proclamando as boas novas de Jesus, ajudando as pessoas a considerarem a relevância do evangelho ao invés de lutar pela sua credibilidade. Qual a influência que a Igreja hoje exerce na sociedade onde está localizada? Penso que alguns líderes buscam reconhecimento antes de mesmo de provarem a autenticidade dos seus sermões e o fruto dos seus ministérios.

2 – Promover um ambiente de aceitação antes das regras denominacionais, e não abrir mão da verdade bíblica. A Igreja é um lugar de aceitação em potencial. Todos aqueles que buscam achegar-se a uma religião procuram na verdade um espaço para descobrirem quem na verdade são. O problema das Igrejas Evangélicas é que se tornaram muito institucionalizadas e insensíveis as necessidades do ser humano. Infelizmente hoje invertemos as prioridades e colocamos as pessoas dependentes das coisas, ao invés de usar as coisas para abençoar as pessoas.

3 – Ser autêntica antes de ser popular. A teologia da Igreja Evangélica da atualidade é extremamente fraca. Insistimos na ênfase dos milagres conquistas pessoais e não abordamos mais a teologia da renúncia, a luta contra o pecado e submissão integral à vontade de Deus. Jesus nunca se comprometeu em nos dar tudo que quiséssemos antes nos advertiu das lutas – o filho do homem não têm onde repousar a cabeça – por isso creio que enquanto estivermos reféns dessa “graça barata” não vamos chegar a lugar nenhum.