segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O REINO DE DEUS NOS EVANGELHOS

Habacuque 2.14

Temos confundido Reino de Deus com a nossa igreja; Reino de Deus está para além de nós mesmos. Quem somos nós para mediocrizarmos a visão de Reino de Deus, transformando-o em patrimônio da nossa religiosidade. Diante do Reino de Deus só há uma coisa a fazer: temer e tremer; curvar o joelho e dizer: ”Senhor, eu não vi nada do Teu Reino ainda. Está para além de mim, para além do que eu enxergo para além do que eu percebo”.

Seu Reino quer ser a totalidade da Sua presença e da sua vontade em todas as dimensões da vida e da criação. Nossa oração é que nós ganhemos o mínimo de lampejo do que seja o Reino de Deus, e acontecendo assim, tenhamos as nossas patologias teológicas e eclesiásticas curadas e nos curvemos humildes e humilhados diante de Deus, vendo-nos como servos inúteis. Para compreendermos o Reino de Deus hoje, temos que repensar sobre o conteúdo teológico do Reino. É preciso que se compreenda qual a perspectiva bíblica do Reino, para que se possa fundamentar essa perspectiva teológica. No entanto, para que nós dimesionemos as coisas e as compreendamos melhor, é mister pensar apenas na palavra “Reino” e nos atrelamentos com os contextos antecedentes e imediatos nos textos onde o termo aparece.

1 – O Reino como a semeadura da Palavra – Mt.13.1-23 nos oferece a dimensão existencial do reino deus. Trata-se da decisão do homem por Deus, rompendo suas próprias estruturas. A palavra cai no coração e o homem tem que decidir, tem que romper, tem que afirmar se quer ou não quer, e é justamente aí que aparece a resposta do homem à proposta de Deus, e o Reino pode se estabelecer no coração ou pode ser morto. É o que diz Jesus na parábola do semeador. O Reino pode ser sufocado pelo status, pode ser desenraizado da alma pela petrificação do coração, pode não encontrar penetração no âmago da vida.

2 – O Reino marcado pela ambigüidade – Mt.13.24-43 a parábola do joio e do trigo diz que o Reino hoje já é assim. O joio convive com o trigo, a maldade com a bondade, a justiça com a injustiça. É difícil avaliar na sua totalidade o que é justo e o que é injusto. Por isso, nesse momento do Reino existe essa condição de convívio com a ambigüidade, até que ele – o Reino – se totalize, quando Cristo vier e separar a luz da obscuridade, o claro do nebuloso, o que é do que parece ser. A Igreja fez muito mal aos seus seguidores ensinando um evngelho cheio de legalismos, padrões de conduta muito além da nossa humanidade. Já é tempo de reordenarmos os nossos conceitos de acordo com a ótica de Jesus que não julga sgundo a vista dos seus olhos e nem com o ouvir dos seus ouvidos, mas segundo a Sua infinita misericórdia e amor incondicional.

3 – O Reino como agente de penetração na totalidade do mundo – Lc.13.20,21 compara-se o Reino ao levedo; compara-se o Reino ao processo de fermentação que se espalha por toda a massa. O Reino é esse agente de penetração de todas as camadas do mundo real, e se ele ainda não penetrou todas as camadas da realidade. A teologia da pós-modernidade tem tentado dar uma conotação negativa à parábola do fermento na massa. O que se tem dito é que não é o reino que tem o poder virulento do fermento. Ao contrário, eles dizem que a Igreja é a massa e que o fermento é aquilo que é mal, penetrando a Igreja. Assim, coloca-se a Igreja na defensiva, como comunidade que para preservar-se tem que “fechar-se ao mundo”. Jesus, no entanto, deixa claro que “o Reino é semelhante ao fermento”, ou seja, o Reino tem esse poder de penetração contagiosa que o fermento possui.

4 – O Reino como refúgio e acolhimento – Mt.13.31,32 apresentam uma visão do Reino como a árvore, como lugar do acolhimento para esses que não tem onde pousar os pés, que não tem onde descansar, que não tem onde se aninhar.

5 – O Reino como revelação e achado do valor absoluto da vida – Mt.13.44.46 que encontra o valor dos valores relativiza os outros valores, consegue até vender o resto para viver a totalidade da alegria do achado na revelação que se nos apresentou em Cristo Jesus.

6 – O Reino como rede de vida – é esse lançar da rede ao mar, essa malha que traz maus e bons e que os faz viver juntos. Nessa ótica temos o outro lado da história do joio e do trigo. Ali é o maligno que semeia o joio no meio do trigo. Aqui é a própria ação evangelística que traz seres humanos de todo tipo para a convivência do Reino, nesse lugar que chamamos Igreja. O lado mau da condição humana não regenerada dos que vivem na Igreja nos assegura intermináveis situações problemáticas e até mesmo incuráveis. Mas o lado bom dos que foram regenerados na convivência da Igreja nos conduz à esperança.

7 – O Reino é a convocação para a ação útil da vida – Mt.20.1-16 nos apresenta a parábola dos desempregados. O sentido final do texto é dar utilidade ao inútil, é dar ocupação ao desocupado, é atribuir finalidade àquele que gastava sua existência no ócio. É acreditar que na história, segundo a visão do Reino, sempre é possível resgatar o tempo perdido, mesmo que seja ao pôr-do-sol, na última hora.

8 – O Reino como a festa para qual estão todos convidados – Mt.22.1.14 é a festa da vitória de deus na vida. É um convite para nos deixarmos pertencer a essa esperançosa perspectiva do casamento de Jesus com a humanidade redimida.

9 – O Reino como enfrentamento das forças de Satanás – Lc.11.20 diz que quando se expulsa demônios, é porque o Reino de Deus chegou. Só o Reino vence as forças do anti-Reino; e isso deve ensinar-nos que onde estiver as forças identificáveis com o diabo e com a morte, aí o Reino tem que estar e entrar para exorcizar essa força maligna. Parece que Jesus nos induz a ver não apenas possessões demoníacas individuais, mas também sociais. Há sociedades inteiras possuídas pelo mal, culturas que precisam ser totalmente regeneradas. As armas com as quais se expulsa essa possessão são as armas sociais do evangelho.

10 – O Reino como mensagem a ser pregada na história – Mt.24.14 não temos outra mensagem para pregar senão a mensagem do reino de Deus. Não há outro evangelho a ser pregado, pois, será pregado o evangelho do Reino a todas as nações e só depois virá o fim. Essa perspectiva evangelizadora do Reino que vai determinar a nossa percepção de que o tempo da volta de Jesus está próximo.

CONCLUSÃO

Se é assim, o que vamos fazer? A história está nas mãos de Jesus. Por isso saiamos e cumpramos a nossa missão. Ele disse: “Todo o poder me foi dado no céu e na terra”. Em outras palavras Jesus disse: “Por causa do meu poder não tenham medo de nada nem de ninguém. Vão por todo o mundo, preguem o evangelho a todas as nações, façam discípulos, batizem-nos, fundem igrejas e ensinem as pessoas a viver todo o projeto do Reino de Deus. E saibam: contem comigo, contem com a minha graça, contem com os meus milagres, os meus sinais, a força do meu Espírito, a minha alegria. Eu estou com vocês todos os dias, até a consumação dos séculos”.

Quero convidá-lo a responder de maneira profunda, coerente e irreversível a esta consciência de que a história está nas mãos de Jesus. Quero também fazer-lhes três convites. O primeiro deixar-se comprometer com o trabalho missionário, mesmo os que já estão com as cabeças brancas. Se você lidera algum ministério, exerce alguma posição de autoridade, faça o compromisso de ensinar em sua igreja a prioridade da evangelização e das missões. Tome a posição de não mais viver ensimesmado, olhando apenas para os seus próprios projetos eclesiásticos. Olhe para o mundo!

Mas se você é um empresário, comerciante, funcionário público, homem de negócios, faça este propósito: deixe de gastar no supérfluo. Invista seu dinheiro no sustento de missões e na promoção das causas integrais do Reino de Deus.Chega de ficar aplaudindo o Cordeiro. Ele não precisa de nosso aplauso. Ele quer é a nossa vida. Ele deseja que aplaudamos a Deus com a nossa vida. Dê a sua vida, dê seu dinheiro, dê seu suor, dê sua juventude, a sua velhice, a sua inteligência, a sua profissão, dê tudo a Ele. Aplauda-o com sua carne, seu sangue.

No amor do mestre.