quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Quando Se Está Só (Sérgio Pimenta)

Quando se está só
O silêncio é mais profundo
As noites são mais longas
O frio mais intenso
E até a própria sombra parece estar mais junta
Como se soubesse

Quando se está só
Quando se está só
Um grito é desespero
Sussurro é loucura
O estalo mete medo
E a mão forte aparece
E está sempre nos sonhos
Eternos pesadelos
Quando se está só

Quando se está só
Se está porque deseja
Pois Ele com certeza não foge de ninguém
Deus está sempre perto
Amigo, braço aberto
Convida a ir com Ele
Pra não mais estar só

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Três inimigos

Albergo três inimigos, três sentimentos que me espreitam nas esquinas das madrugadas: fracasso, impotência e culpa. Lido mal com as inadequações, sofro com a fraqueza e arquejo debaixo do peso dos erros.

As exigências sociais me deixam arfando. Fatigado, não me sinto apto. Sou calouro desafinado, buzinado nos poucos minutos da apresentação. Piso na bola à poucos metros da linha do gol. Gaguejo na entrevista. Tropeço em cadarços soltos. Não consigo subir os degraus da piedade. Continuo em falta com a divindade. Sou um constrangimento religioso. Depois de décadas, nada poupei para a velhice. Frustrei os anseios paternos. Constrangi mamãe em seus últimos dias de vida. Despedaço o ícone que fizeram de mim. Não dou vida ao mito. Anseio permanecer comum. Rasgo o simulacro da personagem que apresento nos palcos.

Admito a minha impotência. Dispo-me da capacidade dos ungidos. Não consigo decretar milagre. Fico sem encabrestar o meu próximo. Meus argumentos não passam de arrazoamentos inconvincentes. Nada me chega fácil. Aprendo devagar. Esqueço o que decorei. Não me antecipo aos incidentes. Não controlo o porvir. Desconheço a saída do labirinto.

Os erros passados me aterrorizam. Sou melancólico. Pressinto que transgredi a lei, maculei a eternidade, constrangi estatutos infinitos. A maldade dos outros é mínima; sou pior. Os erros dos outros, irrelevantes; sou pior. Cabisbaixo, procuro a penitência mais adequada para o meu pecado.

Depois de admitir-me fracassado, impotente e culpado, faço as pazes com a minha alma. Pergunto: quem estabeleceu uma régua para eu me medir? Quem me outorgou o mandato de controlar as variáveis incontroláveis do universo? Qual o sentido deixar que a culpa me atole na lama da autocomiseração?

Não preciso desempenhar para ser precioso. Não preciso manipular para experimentar liberdade. Não preciso ser perfeito para despistar o remorso. Levanto a cabeça. Sei que o meu valor não depende de alcançar a perfeição. Pisoteio o fracasso, desdenho a impotência e faço da culpa uma aliada para recriar o futuro.

Soli Deo Gloria

Pr Ricardo Gondim - AD Betesda/SP