quarta-feira, 22 de outubro de 2008

DEUS CONOSCO

O Salmo 23 é o testemunho de Davi a respeito de seu relacionamento com Deus. Revela a maneira como Davi percebia e experimentava Deus. Caso alguém pedisse a Davi que descrevesse o seu Deus, ele diria Deus é o meu Senhor/Pastor, é Aquele que me supre, guia, restaura, acompanha na adversidade, protege dos inimigos e me cobre de misericórdia e bondade. Uma leitura teológico-sistemática diria que Deus pode ser chamado de Provedor (águas tranquilas, pastos verdes, e refrigério para a alma), Condutor (guia pelas veredas da justiça) e Protetor (vara e cajado no vale da sombra da morte, mesa farta na presença dos inimigos, bondade e misericórdia todos os dias) dos seus filhos.

Mas devo confessar minhas incredulidades. Caso você me pergunte se creio em Deus como meu Provedor, a resposta é um peremptório SIM. Mas se perguntar se isso significa que creio que jamais passarei por privações financeiras, jamais ficarei desempregado, jamais endividado, jamais irei mal nos negócios, jamais ficarei mais pobre do que sou hoje, jamais precisarei da ajuda de terceiros, a resposta desta vez é um peremptório NÃO.

Caso você me pergunte se creio em Deus como meu Condutor, a resposta é um peremptório SIM. Mas se perguntar se isso significa que creio que jamais tomarei decisões erradas, jamais escolherei o caminho da injustiça, jamais terei meus planos frustrados e castelos desmoronados, jamais ficarei indeciso e sem saber para onde ir, desta vez a resposta é igualmente um peremptório NÃO.

Igualmente, caso você me pergunte se creio em Deus como meu Protetor, a resposta é um peremptório SIM. Mas se perguntar se isso significa que creio que jamais serei tocado pelas fatalidades, jamais serei alcançado pela tragédia, jamais serei ferido pela maldade, jamais serei injustiçado, jamais sofrerei perdas ou danos, mais uma vez a resposta é um definitivo NÃO.

A convicção quanto à provisão, orientação e proteção de Deus não nos isenta das possibilidades de fracassos, fatalidades, privações e ferimentos, tudo isso, ônus do direito de viver. A própria biografia de Davi me autoriza a tal afirmação. O início de sua trajetória rumo ao trono foi marcado por perseguição e ódio. Seu primeiro exército foi composto da escória da sociedade: endividados, angustiados e pessoas descartadas pela sociedade de então. Davi teve um filho que estuprou uma filha e depois foi assassinado pelo irmão. Depois disso, Davi usurpou seu poder de Rei e tomou para si a mulher de um de seus comandantes militares, que mandou matar: adultério e assassinato. O filho de seu adultério foi morto por ato disciplinar de Deus. O filho fratricida se revoltou contra sua autoridade e liderou uma rebelião no reino de Israel. Este filho rebelde foi morto pelo exército real e depois Davi teve que comparecer diante do povo para agradecer e honrar os assassinos do seu próprio filho, por quem chorou, desejando ter morrido em seu lugar. Qualquer pessoa poderia questionar que tipo de Provedor, Condutor e Protetor é esse que permite uma biografia marcada por tragédias, crimes, ódios, e pecados suficientes para determinar a infelicidade crônica de qualquer mortal.

Isso me leva a crer que as afirmações de Davi no Salmo 23 devem ser interpretadas de outra maneira, distinta daquela que nos leva a crer que Deus nos coloca dentro de uma bolha de bem-estar, conforto, e prosperidade inabaláveis. Por esta razão, creio que a expressão que sustenta o relacionamento entre Davi e Deus não apresenta Deus como Provedor, Condutor ou Protetor. Estas dimensões do relacionamento pertencem a Deus, e nas mãos de Deus está a prerrogativa de como prover, conduzir e proteger os seus. A expressão que determina a qualidade do relacionamento entre Davi e Deus é “tu estás comigo”. Caso você pedisse a Davi que descrevesse o seu Deus, ele deixaria de lado a teologia sistemática e falaria com o coração: Deus é meu grande companheiro. Ele está sempre comigo. Esteve comigo na caverna de Adulão. Esteve comigo quando Saul corria atrás de mim para me matar. Esteve comigo quando meus filhos se matavam e se odiavam. Esteve comigo quando eu não soube o que fazer para estancar o ódio dentro da minha casa. Esteve comigo quando eu andava pela escuridão usurpando, matando, mentindo. Esteve comigo quando meu filho conspirava contra mim. Esteve comigo quando eu precisei superar a minha dor para resguardar a autoridade do meu exército e preservar a unidade do exército e do povo. Deus é meu grande companheiro.

Minha leitura deste Salmo 23 me ensinou duas coisas essenciais. Primeiro, me ensinou que não devo basear meu relacionamento com Deus naquilo que Deus pode fazer por mim, mas sim naquilo que Deus pode fazer em mim. As expectativas que tenho a respeito de Deus não estão relacionadas ao que Ele pode fazer em minhas circunstâncias, mas sim ao que Ele pode fazer em meu coração.

Afirmar “o Senhor é meu Pastor e nada me faltará” implica um caminho livre de ansiedade e repleto de satisfação. Espero que o dia da escassez nunca bata à minha porta, mas se chegar, o que mais espero é poder dizer que “aprendi a estar contente em qualquer situação, porque Deus está comigo, e posso superar qualquer circunstância ruim naquele que me fortalece”.Afirmar que “ele me conduz às águas tranqüilas, aos pastos verdejantes e restaura a minha alma”, implica um caminho de serenidade e saúde emocional. Tenho certeza que Deus tem o seu caminho no meio da tormenta, e mesmo no deserto, me levará aos mananciais onde poderei ser restaurado no corpo e na alma. Espero jamais passar pelo que Paulo apóstolo passou, mas caso necessário, o que mais espero é também poder dizer que “combati o bom combate, terminei a carreira e guardei a fé: estou inteiro e passaria por tudo novamente”.

Afirmar que Deus prepara uma mesa na presença dos meus inimigos e unge a minha cabeça com óleo, implica um caminho onde a alegria é possível mesmo quando o que é mal está diante dos nossos olhos. Espero que o ódio do mundo e do mal não se materializem contra mim de forma tão visível e explícita, mas caso aconteça, espero muito mais ter a coragem de continuar em frente, com os olhos fitos na mesa posta pelo Bom Pastor que me prometeu vida abundante no meio dos lobos.

A segunda coisa que aprendi lendo o Salmo 23 é que não devo basear meu relacionamento com Deus naquilo que Deus pode fazer por mim, mas no que eu posso fazer tendo um Deus como Ele. Diante dos vales de sombra da morte, não devo ficar esperando que Deus me leve para longe do vale, ou que Deus afaste do vale a sombra da morte. No dia em que tudo ficar escuro, espero me não me deixar tomar por um espírito de covardia, mas me levantar movido pelo espírito de amor, moderação, e poder, para atravessar o vale com a dignidade que somente os que afirmam “Deus está comigo” podem ter.

Que venha o futuro – ou melhor, eu vou ao futuro sentado na confortável poltrona 23.

Pr Ed René Kivitz - http://www.galilea.com.br/

Metanoia

O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho.[Marcos 1.15]

Jesus inaugurou um novo tempo, o tempo de Deus, chamado período do reinado de Deus. Isso não significa que Deus estava distante e omisso em relação à história e às necessidades e angústias humanas. Significa, sim, que a maneira como Deus passa a agir e interferir na história e entre os homens se torna absolutamente distinta: agora Deus está entre nós. Jesus é Emanuel: Deus conosco.

A chegada do reinado de Deus exige arrependimento e fé. A palavra grega traduzida por “arrependimento” é “metanóia”, de “meta” = além, que transcende, e “nous” = mente, modo de pensar. Arrependimento é “expansão de consciência”: uma iluminação interior que acarreta tamanha transformação que se diz que o arrependido “nasceu de novo”. Ninguém consegue andar com Jesus sem crer na realidade do reina do de Deus, e qualquer que se submeta ao reinado de Deus permanece a mesma pessoa.

Pr Ed René Kivitz - http://www.galilea.com.br/

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A Espiritualidade do Seguimento

No princípio, era o seguidor! Jesus irrompia inesperadamente e dizia: "Segue-me, venha após a mim". A resposta positiva exigia uma ruptura com a maneira de viver até aquele momento do que aceitava o convite. A vida deveria ser reorganizada. O centro era o mestre e o caminho apontado por ele. Quem aceitava tal convite nos seus termos tornava-se um discípulo. Também, no princípio, existia o simpatizante: aquele que se emocionava com as palavras do Cristo, achava fantásticos os seus milagres, impressionava-se com a originalidade de suas atitudes, nutria enorme curiosidade por encontrá-lo - mas não colocava o pé no caminho. Simpatizava até o ponto de não precisar mudar seu estilo de vida. Tinha admiração, mas não estava interessado na transformação resultante da formação espiritual à qual todos os discípulos viveriam quando resolvessem caminhar o caminho proposto pelo Filho de Deus.

Ainda no princípio, havia o consumidor. Este sequer tinha tempo de ouvir o Senhor; desejava, isso sim, comer o pão e o peixe multiplicados, ansiava pela cura da perna atrofiada, somente tinha interesse em ser restaurado da lepra... Uma vez alcançada a graça, nem sequer lembrava de retornar para agradecer. O discípulo seguia Jesus porque o admirava; o simpatizante admirava sem o seguir, e o consumidor nem seguia e nem admirava, posto que Jesus era apenas um provedor de suas necessidades, e não alguém a apontar-lhe um caminho transformador.

Jesus conviveu indistinta e graciosamente com estes três grupos dentro da multidão que gravitava ao seu redor. Nunca se negou a oferecer caminho aos seguidores, admiração aos simpatizantes e provisão aos consumidores. Todavia, o rabi sabia que os discípulos eram os protagonistas para cumprir sua missão no mundo. Certamente, ele não contava com simpatizantes e consumidores para o estabelecimento do Reino de Deus. Estava certo, como sempre! Nos duzentos anos que se seguiram à sua morte, o pequeno e frágil grupo inicial de discípulos, apaixonado por sua missão, se espalhou por todo Império Romano. Eles haviam sido convocados pessoalmente para seguir um caminho; colocaram o pé na estrada e saíram pelas vilas e cidades com a mesma convocação com que foram convocados: sigamos o seu caminho. Quanto aos simpatizantes e consumidores, não se sabe o que aconteceu com eles. Afinal, quem fez a história foram os discípulos.

Não resta dúvida: o cerne da espiritualidade cristã está em seguir a Jesus. Quando decidimos conscientemente seguir o seu caminho, então a espiritualidade cristã começa a fluir em nós. O Pai, pelo seu Espírito, vai nos transformando na imagem de seu Filho à medida que damos os passos no caminho. Fora do seguimento, não há espiritualidade. Todos nós estamos necessitados de retornar à experiência original dos primeiros discípulos. Sim, nossa carência essencial está em "ver" Jesus de novo surgir em meio à nossa complexa e agitada vida, cheia de cansaço e dores, e sussurrar com ternura e vigor ao nosso coração: "Vem e segue-me!" Quando ele irromper no nosso cotidiano, como aconteceu com os pescadores da Galiléia ou com o coletor de impostos da Judéia, com aquele sedutor olhar a nos convidar a seguir o seu caminho, e largarmos as redes ou a segurança da coletoria, aceitando seu convite, então, experimentaremos real comunhão com o Deus trinitário. Longe do caminho do Filho, não seremos capazes de enxergar a face do Pai e tampouco vivenciar a presença do Espírito. De fato, no cristianismo bíblico, espiritualidade é um mero sinônimo de seguimento.

Se as nossas orações, liturgias, louvores, corais, células, congressos e mensagens não apontam o caminho do Senhor e não convocam o mundo para segui-lo, então, tudo isso pode até ser espiritualidade, mas não é cristã. Se nossas igrejas se tornam fontes de atração para consumidores e admiradores, ao invés de espaços comunitários formadores de discípulos, tenhamos consciência: todos devem ser tratados com graça e amor, como Jesus fez, mas só cumpriremos sua missão no mundo sendo e formando seguidores.

Não deveríamos, mas, infelizmente, estamos hoje diante de uma encruzilhada, que por natureza é o entroncamento de dois caminhos. Entrar por um é necessariamente excluir o outro. Ou escolhemos a espiritualidade do entretenimento, que produz simpatizantes e consumidores, ou optamos pela espiritualidade do seguimento, a que gera discípulos. Tenhamos, contudo, uma certeza - desde sempre, Jesus já fez a sua escolha. Basta, apenas, que o imitemos nela.

Por Eduardo Rosa PedreiraFonte: Renovare Brasil

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O MODELO PARA A IGREJA NO REINO

O Reino de Deus é dinâmico e atende as necessidades do homem para cada época em que se vive no decorrer da história. No Antigo Testamento Deus tratou de escrever os 10 Mandamentos como referencial a nação que estava se formando, já no Novo Testamento, Jesus resume os Mandamentos em apenas dois: amar a Deus e ao próximo. Sendo assim, é possível concluir que Deus se importa com o contexto cultural, histórico e social em que vive a humanidade. Não somos mais a mesma sociedade de trinta anos atrás, não atribuímos o mesmo senso de valor quanto à vestimenta, vocabulário, sonhos e tantas outras coisas.

A Igreja pós-Moderna não deve se contaminar com as práticas do mundo, mas também não pode se enclausurar em doutrinas tradicionalistas que afastam as pessoas. O apóstolo Paulo na carta aos Gálatas no cap. 11 vai nos dizer que não podemos nos submeter ao jugo de escravidão, segundo a lei, mas viver livres, servindo a Deus. Mesmo depois da virada do milênio continuamos muito influenciados pelo que os nossos pais e líderes nos deixaram como legado.

Acredito que muitas coisas que escrevo aqui devem causar certo mal estar em alguns líderes na igreja, só que o mundo hoje precisa de uma Igreja que seja mais humana, isto é, que se preocupe de fato com as feridas da alma, com a limitação da mente e que ofereça oportunidades que atendam a busca incessante do homem pelo sobrenatural, o místico. Infelizmente os mais carismáticos e os pentecostais assumiram uma posição de detentores do poder de Deus enquanto os mais tradicionais cuidam apenas das suas organizações, organogramas e intermináveis assembléias. Nada disso atrai o homem moderno, o evangelismo neste século precisa de crentes preocupados em alcançar o homem integralmente, uma visão holística é fundamental para alcançarmos não só a alma, mas ainda a mente, os sonhos e as necessidades do ser humano.

Chega de pensar apenas em “ganhar almas para Jesus”, temos que ir para ganhar homens, mulheres, jovens e crianças – gente de verdade – que vão encher nossas igrejas adorando a Deus em espírito e em verdade.